terça-feira, 1 de maio de 2012

Progresso aparente

Cada vez que o tempo passa e a globalização avança, juntamente com um discurso de liberdade e fraternidade, em contramão, o mundo fica mais tradicionalista, mais repressor e muito mais perigoso.
Mais se sente preso a convenções tortas, que não fazem mais que trancar os avanços que muitas pessoas correram atrás, por um longo tempo.
O ópio do povo não é mais somente a religião, mas a imagem que foi construída de vida. Aquela do qual toda a diferença deve ser eliminada e tirada de cena. Assim, pintar um quadro perfeito, da casinha no monte com as arvorezinhas ao lado. Aquela que as pessoas devem ser totalmente iguais, de cabelos, olhos e visões iguais.
Será que estamos construindo, com isso, um "novo e melhorado" tipo de ditadura?
No entanto, uma ditadura que não se desfazerá com 20 anos, com pólvora e desaparecimentos de corpos, e sim pela exclusão do uso da palavra e de sua força linguística. E sim pela exclusão da visão, da vontade de comunicação segundo seu próprio modo.
Tenho medo pelos meus iguais e principalmente pelos meus diferentes, se daqui algum tempo não for mais possível sonhar.


(Monique Ivelise)

Rouge

Meu batom não atinge as suas órbitas,
meus olhos pintados de negro não captam a sua intenção,
apenas querem algo já pronunciado por ti.
Querem o sussurro atrás da orelha,
ainda que há distância.

Esse mesmo batom quer se espalhar
entre as serenatas repicadas.
Quer manchar suas camisas de trabalho,
para que quando chegue em casa as lave com piedade.
Quer fazer propagandas na alta circulação,
do último fato contravertido.

Já os olhos pintados,
querem absover as lágrimas de seu pranto.
Fazer a cama, que escolhe ter prazer.
E limpar a mesma cama, quando sai correndo,
para novamente ultrapassar a barreira do espelho.

Mesmo sendo, apenas, uma fantasia;
de dias de chuva ou de cansaço.
Uma fantasia que cultivas como fosse real,
para agradar algo já decidido por suas mensagens.
Apenas uma fantasia de carnaval,
usada quando todos já foram dormir,
feita com todas as características de sua célebre reclamação de macho
perpetuador da classe.
A fantasia que se pinta de rouge,
para quem sabe um dia se postar a sua frente
e dar-lhe apenas um não fantasioso.

(Monique Ivelise)