domingo, 13 de março de 2011

A própria semelhança de Deus

Auto-retrato

Sou das ruas.
Uma ladra de sortes.
Uma encantadora de serpentes,
que é mordida pelo desejo falido.

Uma prostituta de almas negadas;
Talvez, uma ambulante,
que vende a maldade de um olhar.
Uma viciada em danças desprezadas.

Uma abnegada, sem registro,
muito menos identidade.

Sou das ruas sujas,
contemporânea e periférica.
Sou do encanto descansado.
Sou o descabido com nome.
Sou?
Se sou, uma proposta:
O desvendamento!
Se sou, uma fantasia.
Se sou, um beijo.
Se sou, uma morte.
Se sou, uma brincadeira.

Mas se não sou,
Não me digas,
pois pra que se importar?
Sei estou há muito de descobrir.
O que resta: as ruas!

(Monique Ivelise)

Delírio comunitário

Por que não admitir?
Por que faz isso?
Não sabes que só tenho
um pequeno coração,
que sonha e desiste.
Faz da escrita a única fuga.
Ou melhor, a principal.

Então, quando me encontrares:
Olha-me, cala-me e beija-me.
Como se fôssemos desconhecidos;
nunca antes vistos.

Por que falar?
Se podemos poetizar?
Ou delirar?

(Monique Ivelise)