sábado, 23 de julho de 2011

A rotina da pretinha


Ai vem a pretinha,
com seu cabelo pixaim alisado.
Andando pelas ruas,
fingindo de ser gente.
Esperando ser reconhecida
pela vida.

Lá vai ela,
com sua sensualidade
de mulher com pele queimada.
Lá vai ela,
com a sina da mesma pele.

Esperam por ela,
pratos sujos, casas pra arrumar,
um samba mal feito.
Mesmo assim, lá vai.

A pretinha, assim reconhecida,
vai abrir as pernas
em um lugar qualquer.
Ao seu lado,
as baratas, as moscas.

O seu final:
Não se encontra nas novelas,
nem nas vitrines.
Foi esquecido pela mesma.
Tornou-se tema dessas palavras vazias,
que mostram, mas não transformam.
Tornou-se poesia nas mãos
de uma, também,
qualquer.
Também de pele queimada,
de cabelo pixaim alisado.
Que também abriu as pernas
para um mundo esquecido.
Tornou-se a puta das palavras.
Decidiu ganhar dinheiro e atenção
com as tormentas dos outros.

Então se foi ela:
sozinha,
esperando ser alguém.

(Monique Ivelise)

Enlouqueça



Aquela que se faz no íntimo,
sensual e sexual.
Que se faz de fingimentos,
até de palavras.
De toque,
de suspiros.
De poesias sujas,
de desejos.

É hora de ser louco!
Ser fingidor.
Ser gauche.
Ser amante.
Ser assassino.
Não ser.

É hora de sujar as paisagens.
Sem respeito.
Sem pudor.
Sem cor.

É hora de viajar.
Sem explicações.
Sem destinos.
Sem.

É não é!
Então:
enlouqueça!
Ou algo melhor para fazer?

(Monique Ivelise)