sábado, 15 de janeiro de 2011

Folhetim - Chico Buarque

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim

E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim

E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis

Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim

Ao pé da noite...

Saudo a vocês peregrinos da madrugada
Que se julgam senhores da luxúria,
sem algum pesar,
Sem alguma consideração.

A vocês, ministros da grande gentileza
Que se juntam aos demais simplórios,
que não conhecem a magia,
muito menos a ilusão.

Reverencio, as vossas atitudes,
de contra-mestre carnavalesco.

Faço-me de colombina arrependida,
que canta nestes minutos que se seguem;
ao pé da nebulosa madrugada.
Pois não sou daquelas mulheres que só dizem sim,
mas quem sabe um talvez...

(Monique Ivelise)