domingo, 27 de fevereiro de 2011

Transparências...

Era malícia, virou horror...

Receita de 5 minutos

Misture um pouco de saudade
e as palavras vazias.
Acrescente a malícia,
dissolvida com pimenta.
Leve, ao fogo brando
por alguns minutos.

Enquanto isso,
veja um pouco de tv,
beba um copo de água,
salte de paraquedas
e salve o mundo.

Voltando, polvilhe loucura
retire do fogo.
Sirva ainda quente e
pense pra tanta besteira junta.

Queridos, culinária também pode ser complicado,
e resguardar toda filosofia de um continente.

(Monique Uvelise)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Apenas um lugar no palco...

O que me resta agora é desinventar,
coisas que foram manipuladas com cuidado.
Fotografias que poderiam ser minhas,
olhares e sorrisos.
No entanto não é,
Talvez nunca será.

O que é então de minha posse?
Apenas as palavras,
que enganam, ou se faz enganar.
Manipuladas, porém sem qualquer efeito.
Apenas palavras,
Apenas uma lágrima,
Apenas uma esperança
e vários caminhos.

(Monique Ivelise)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Reticências

Por que parar?
Se o erro é rápido,
o vento certeiro,
a luz imaginária,
a morte paciente.

Por que chorar?
Se não me comovo,
Se não faço diferente.

Por que continuar?
Se o destino já foi previsto,
a sorte lançada.

Resta apenas um processo,
de uma coisa que seria coisa,
se fosse verdade.

Resta apenas um sentimento,
já apagado pelo desencontro;
pelas cores transparentes.

Por que mesmo?

(Monique Ivelise)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não estamos falando de loucura?

Eu? Poetizar?

Por que toda a poesia se faz do triste?
Para contornar o real.
Para evitar a alegria?

Seja o que for,
permaneço o caminho de todos?
Não sou uma singularidade?

O que faço?
Ser poetiza?
Como meus antecessores?
Meus sucessores?

Será que sou triste de natureza?
Será que possuo o pessimismo?
Meus versos são exclusivos?
Ou apenas uma continuação?
De algo arcaico?

Não quero tantas, coisas
Mas estou fascinada por essa coisa,
que nem sei o que é.
Então?
Navego ou morro afogada?
Danço ou saio?
Canto ou escrevo?
Vivo ou permaneço?

Eu?
Poetizo?
Sinceramente não sei!!

(Monique Ivelise)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Interrogações

O que dizes,
nada condiz com tua postura.
Como olhas,
se afasta de tuas fotografias.
Teu toque,
se confunde com tuas brincadeiras.

No meio de tudo,
está eu, cansada
de tantas confusões.
O que torna,
o silêncio mal dito.

Hoje, lamúrias
ao som do luar desaparecido.
Hoje, um insensato destino.
Hoje, interrogações.

(Monique Ivelise)

Por que não digo eu te amo

Sobe pela garganta, um grito,
abafado.
Cansado,
de tanto ser e não viver.
De tuas atitudes,
fazem de mim,
uma pequena...

As palavras não falam de amor,
mas de hipocrisia.
De tuas atitudes, fez de ti
o silêncio.

Então, recuso
a tua companhia.
Em mostra de interesse visível.

Então, não digo.
Apenas, sinto.
Vivo com o meu coração de pedra.
Pois as pedras demoram pra se desfazer.
Não me chame de ridícula,
Pois só não digo,
Eu te Amo!!!

(Monique Ivelise)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

São apenas crianças...





Hay muchos niños en la calle

O que fazer com a nossa infância perdida que cada rua de nossas cidades?
O que fazer com os pequenos anjos caídos, de um céu solto?
Como renovar o sonho em uma nação?

São perguntas que fazem de nós um qualquer, um sujeito que não procura promover a solução de uma identidade. Identidade sem cara, sem razão.
Nossas crianças vivem ao relento, sem previsão de vida, muito menos de morte. Crianças, que brincam de ser gente nas ruas. Com fome, com frio, com saudade, de uma coisa que nunca tiveram. Brincam de ser cidadão, de ser respeitado por fantasmas.
Cabe, chorar?
Reclamar?
Melhor agir em função, não de si próprio; mas em favor do outro.
Para que as canções, não se repitam. Dizendo que há niños en la calle.


(Monique Ivelise)

Canción para un niño en la calle, Mercedes Sosa y Calle 13

A esta hora exactamente,
Hay un niño en la calle....
¡Hay un niño en la calle!

Es honra de los hombres proteger lo que crece,
Cuidar que no haya infancia dispersa por las calles,
Evitar que naufrague su corazón de barco,
Su increíble aventura de pan y chocolate
Poniéndole una estrella en el sitio del hambre.
De otro modo es inútil, de otro modo es absurdo
Ensayar en la tierra la alegría y el canto,
Porque de nada vale si hay un niño en la calle.

Todo lo toxico de mi país a mi me entra por la nariz
Lavo autos, limpio zapatos, huelo pega y también huelo paco
Robo billeteras pero soy buena gente soy una sonrisa sin dientes
Lluvia sin techo, uña con tierra, soy lo que sobro de la guerra
Un estomago vacío, soy un golpe en la rodilla que se cura con el frío
El mejor guía turístico del arrabal por tres pesos te paseo por la capital
No necesito visa pa volar por el redondel porque yo juego con aviones de papel
Arroz con piedra, fango con vino, y lo que me falta me lo imagino.

No debe andar el mundo con el amor descalzo
Enarbolando un diario como un ala en la mano
Trepándose a los trenes, canjeándonos la risa,
Golpeándonos el pecho con un ala cansada.
No debe andar la vida, recién nacida, a precio,
La niñez arriesgada a una estrecha ganancia
Porque entonces las manos son inútiles fardos
Y el corazón, apenas, una mala palabra.

Cuando cae la noche duermo despierto, un ojo cerrado y el otro abierto
Por si los tigres me escupen un balazo mi vida es como un circo pero sin payaso
Voy caminando por la zanja haciendo malabares con 5 naranjas
Pidiendo plata a todos los que pueda en una bicicleta en una sola rueda
Soy oxigeno para este continente, soy lo que descuido el presidente
No te asustes si tengo mal aliento, si me ves sin camisa con las tetillas al viento
Yo soy un elemento mas del paisaje los residuos de la calle son mi camuflaje
Como algo que existe que parece de mentira, algo sin vida pero que respira

Pobre del que ha olvidado que hay un niño en la calle,
Que hay millones de niños que viven en la calle
Y multitud de niños que crecen en la calle.
Yo los veo apretando su corazón pequeño,
Mirándonos a todas con fábula en los ojos.
Un relámpago trunco les cruza la mirada,
Porque nadie protege esa vida que crece
Y el amor se ha perdido, como un niño en la calle.

Oye a esta hora exactamente hay un niño en la calle
Hay un niño en la calle.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A volta da malandragem




Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central


Chico Buarque

Fazei meu reino, te darei as glórias... de leis presas


Asas perdidas...

Ao som da sinfonia descabida,
a liberdade se desfaz.
Regido por múmias decadentes e
Esfinges paradas.

As mitologia deram lugar,
um povo cansado e preso.
Um povo sem voz,
sem maladragem.

Vive de fotografias, ou melhor,
manuscritos de uma grande civilização
passada e atual.

Hoje, celebram mortos
a tirania do rei deposto.
Hoje, cantam ao relento.
Amanhã, serve-lhe um talvez

(Monique Ivelise)

O morro não é dos malandros, Rubem Braga

Em qualquer morro do Rio já se ouve, hoje, um ronco, um barulho de tambor surdo, uma voz cantando uma coisa esquisita. Há qualquer coisa lá por cima e não é sem tempo. Eles estão se preparando, estão começando a se preparar. Os exércitos do samba fazem os primeiros exercícios antes de marchar sobre a cidade. Lá vem samba.

É preciso gostar do samba e para gostar do samba é preciso conhecer o samba. Porque a verdade é que muita gente não gosta das mesmas condições. Está visto que há samba e há samba. Do partido alto e do partido baixo. E de muitas variedades. É provar. Não é decente falar em samba sem falar em Noel Rosa. Ele faz sambinha repinicado, desses que se podem cantar com o auxílio de uma caixa de fósforos. Mas faz também o outro samba, o samba alto, o samba para a multidão mestiça chorar, o grande samba.

Para gostar desse grande samba não é preciso achar que ópera é música para boi dormir, como definiu um meu amigo. Um sujeito que gosta de ópera e não gosta de um samba de Cartola, da Estação Primeira do Morro de Mangueira, é um sujeito que não gosta propriamente de ópera, gosta apenas do Teatro Municipal. Não convém esperar que um samba de Cartola chegue a ser conhecido por uma cantora qualquer que o vá ganir pelo microfone de qualquer PR. O melhor é tomar um ônibus Méier, descer ali na rua São Francisco Xavier, atravessar o viaduto e subir o morro. Aí, sim. Um samba é um samba, é qualquer coisa de muito.

Não é só na Mangueira. Em qualquer morro e mesmo em qualquer canto pobre da cidade. Houve um tempo em que só se falava em Favela. Hoje o samba se espalhou. Há um por aí que canta as glórias do morro de São Carlos: “No morro de São Carlos / Tive um trono / As negras me velavam o sono / Numa corte imperial.”

E o cantor compara a mulata que fugiu a Maria Antonieta, “fazendo muita falseta,” e ele mesmo a um rei Capeto abandonado que acaba infeliz, guilhotinado pela saudade da referida senhora.

Mas se eu citei Cartola é porque nele se encontra um sentimento tão profundo e primitivo que a letra de repente nem quer dizer nada e acaba dizendo coisa como diabo. Ele é talvez melhor que o famoso Paulo da Portela e o samba parece mais puro. Reparem só nessa letra: “Semente de amor eu sei que sou / Desde a nascença / Mas sem ter vida e fulgor / É minha sentença.”

Isso na voz de negro, entre o coro das mulatas, é qualquer coisa de fundo, de triste, de uma desgraça preta mesma, preta como o soluço de uma cuíca.

Mas parece que estou estragando o samba, transcrevendo assim um pedacinho sem música, sem a voz, sem os surdos, as cuícas, os tamborins, as mulatas, o morro…

Só indo lá mesmo. E é preciso acabar de uma vez essa história de que morro é terra de malandro. Eu, que já fui várias vezes a vários morros e já morei vários meses em Copacabana, sou capaz de jurar que nos apartamentos da areia há mais malandros que nas casinhas de lata velha lá de cima. A grande maioria da população do morro é de trabalhadores, sujeitos que pegam no duro todo dia, que vivem suando. A malandragem existe mais no samba que na realidade.

O batente é o mais comum. Malandros não teriam, por exemplo, capacidade para organizar uma escola de samba. Para isso é preciso ter o espírito, a disciplina, a força de vontade de um trabalhador. E os morros estão cheios de escolas onde pode haver cachaça, mas há muita alegria, bastante respeito e, às vezes, uma disciplina quase militar. Já esse nome de escola implica uma idéia de hierarquia, de cooperação, de ordem, de método de que um verdadeiro malandro não é absolutamente capaz.

Quando falo que nas escolas de samba há muita alegria, não quero que se confunda alegria com bagunça. Ali não há cerimônia, mas também não há gandaia solta. E de resto ninguém pode esquecer a função quase religiosa que o samba tem no morro. Uma religião sem Deus, mas com sacerdotes, noviças, rito, tristeza, esperança. Mesmo porque não é preciso ser campeão de folclore para sentir como o samba recebeu e ajeitou a fluência de certas orações de macumba.

O cavalheiro que se dispõe a ir a um morro, mesmo com a sua senhora, irmã, noiva, namorada, tia ou bisavó, não necessita levar uma boa metralhadora nem mesmo uma pistola de gás lacrimogêneo. A sua bolsa e a sua mulher não correm tanto perigo. A sua mulher, pelo menos, na sua descida do morro lhe dirá que foi tratada infinitamente com mais respeito do que quando passava pela Avenida, sábado de tarde.

Um amigo meu foi há tempos a um morro. Havia bebido demais e no fim da festa estava naquele estado em que tudo gira e se confunde em torno de nós, e, mais ainda, dentro de nós. Em pleno caos alcoólico, meu amigo deixou de saber o que estava fazendo. Acordou no dia seguinte numa cama ao lado de um mulato de uma mulata que o haviam rebocado até ali por caridade e ainda lhe deram café e dinheiro para o ônibus que o conduziria aos seu luxuoso apartamento de Ipanema.

Vamos, portanto, para o morro ouvir as primeiras cuícas do carnaval do ano que vem. Não precisamos levar armas. Levemos ouvido e coração, para ouvir e para sentir. Não aprenderemos música. Mas sentiremos coisas que são tristes e belas e que é bom sentir. Aprenderemos sentimento.

Extraído de: http://acertodecontas.blog.br/cultura/a-malandragem-existe-mais-no-samba-que-na-realidade/

Vamos voltar a malandragem

Quem me dera os dias,
que a vida era mas bem feita,
que os sorrisos eram guardados,
que a boêmia era homenageada.

A volta dos senhores do samba,
ao seu lugar original.
Aos patronos dos morros musicais.

Invés disso,
o nosso território
se encontra infestado,
de cores falsas.

Quem gosta de samba, realmente,
bom sujeito não é...

(Monique Ivelise)