sábado, 24 de setembro de 2011

O som calado


Um tapa de luva sobre tua face,
que se fez novamente os elogios
de minha estranhez.
Sob a minha cor,
de fechados contornos
e claras histórias.
Sob minha forma corporal,
de pícara.

Aquela que modernizou
todas as ondas de azul marinho,
de transmissão de vozes.
Aquela, que sou,
mais que um som calado.
De atos programados
pelos grandes amostradores.

Aquela,
que fez sua condição,
imposta pela genética,
apenas um assassinato.
Assassinato de culturas,
de navalhas,
de receitas.
Mortes de posturas
de jambos dermáticos.
Morte dos olhos,
dos olhos.
Apenas um tapa de luva.

(Monique Ivelise)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Só queria mudar de resposta

A única que sai da minha boca
é o não.
A tal interjeição presente
em todos os ramos da sociedade.
Aquela que nega todos os ares
de uma nova cena.
Que nega a possibilidade
de algo que nunca se fez.

A palavra, esta, não segue
nenhum modelo de cordialidade;
de receptividade.
Ora, nenhum, caro senhor.
Um único e repetido,
não de trajetórias,
mas de balanços.

Então?
Como mudar?
Acredito que nunca,
converterá em açúcar.
Permanecerá intacto
e irreversível.
Ainda não posso transformar
ouro em melodias.

(Monique Ivelise)

Roteiro de madrugadas


Sobre a madrugada,
que vejo os olhos da palavra.
Aquelas palavras que se fazem
a partir da aventura,
que não foi feita para mim.
Aquela aventura que se apresenta
doce, uma calda de açúcar queimado.
Porém, transforma-se em pequenos
invernos: frios e amargos.
Aventuras de mim,
querendo fazer de mim
a segunda da vida,
não mais ser dona de nada.

Ainda sob os olhos da hora
adiantada.
Vejo que a loucura se foi
e o que ficou foram vários devaneios.
Ficou apenas uma escultura oca,
amaldiçoada e ainda quente,
das histórias sem par.
Sobre um dia

domingo, 18 de setembro de 2011

Costuras de menina


A minha malandragem
se confunde com a ironia
de alguém que fora chamado
para guerrear

A minha ginga
se faz dos retalhos de chita
de minha saia colorida.

A meu balanço,
foi um samba preso,
pela perseguição
do outro infeliz.

Eu menina,
de renda na pele.
Que sonha de messalina
de cordéis.
Que sonha em mundo amarelo.

Eu menina,
Que fala o não,
mas queria o sim.
Apenas eu menina.
Brincando de tornar-se
uma pequena mulher
costurada de fitas
do Senhor do Bonfim.

(Monique Ivelise)

domingo, 11 de setembro de 2011

Pesadelo

Musa dos sonhos?
Nunca.
Talvez de pesadelos,
incalculáveis.
Não faça, o que não sou.

Palavras doces?
São jogadas no lixo,
juntos com os ovos podres.
Atos impensados?
Queimados juntos com os
pecados de fora.
Mensagens invisíveis?
Como já era de imaginar,
apagadas.

Se isso é um sonho,
viva de tristezas,
de lágrimas.
Com as brincadeiras de má-fé,
que faço com as tuas intenções.
Se isso é um sonho,
continue a vivê-lo.

(Monique Ivelise)

sábado, 10 de setembro de 2011

Musiar

Meus ritmos se vão por ai;
atrás de instrumentos encantados.
Atrás de uma música ideal,
sem percalços.

Minhas sintonias,
te encontrarão
em outros ares.
Atrás de Hades,
Talvez de Ogum,
ou mesmo da Trindade Santa.

E assim se vão,
criando batuques,
rebates e atabaques.
Se vão, através das sensualidades
ditas de meu corpo embaçado, borrado.

E vão, fazendo
o que chamam por ai
de músiar.

(Monique Ivelise)

sábado, 3 de setembro de 2011

Destruição


Acabaram-se os planos,
as tentativas de viver.
O juízo já não me prende,
não mais.

Acabou o pensamento,
e todas as teorias.
As longas teorias que
explanam de alguma coisa parecida
da chamada realidade.

Acabaram os sonhos,
a ilusão do perfeito.
Também as luzes das ideias.

Acabou a menininha,
com meiguice singular,
cheias de planos e sonhos.
Se fodeu na vida.
Agora é mais conhecida
como a desconhecida.
A tal assaltante
das quebradas.
Acabou-se.
Finalmente foi viver.

(Monique Ivelise)