domingo, 31 de julho de 2011

Palavras

Minhas palavras, cegas.
Meu pastor, morto.
Minha fé, perdida.
Meus sonhos, acordados.

O que me resta?
A noite calada,
sussurrando
uma vida que poderia
ser a minha.
No entanto, não é
e não será.

O que me resta?
Sabotar
todas as trajetórias.
Sabotar
os tais sonhos.
E passar a arranhá-los.
Sufocá-los
Esmagá-los
Fazê-los de comida,
e assim deliciá-los.

O que me resta?
Aplaudir a
triste desaventura.
Aplaudir a voz
da minha cabeça,
que clama por
saudade.

(Monique Ivelise)

sábado, 30 de julho de 2011

Esperas


Espero por uma palavra,
sua, diferentes das outras.
Espero, por um olhar,
diferente do meu.
Espero pelo novo,
um novo de você.

Esperei pelo ferimento,
pelo ataque.
Esperei pelo sussurro
de tua parte.
Esperei pelo desconexo.
Pelo desengano, por encantamento.
Esperei, esperei.

Esperava por atos,
não concretizados.
Esperava por beijos,
mal dados.
Esperava por sorrisos,
por posturas.
Esperava.

As tais esperas
ficaram esperando.
Os sonhos crescendo,
sonhando em um dia,
não mais ser espera,
no coração da menina,
que espera ser feliz,
sem mais alguma espera.

(Monique Ivelise)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Cliente da modéstia


Que se foda essa porra.
Oh digníssimo espaço pervertido,
Es tu cliente da modéstia,
que saboreia teus incríveis bombons.

Que vá, com prazer, à merda,
Tu que é vestido da
minha pura seda javanesa.
Tu, que faz parte de projetos sociais.
Tu, que sai nas fotos oficiais da ONU.
Tu, mestre da unha do pé de Baudelaire.

Tu compra inocências,
Tu que pinta a cara de verde e amarelo,
e faz discursos brancos.
Que se foda.

Sei que minha linguagem te provoca,
mas essa é única que irá sangrearte.
Meu chulo dialeto,
Minha desgarrada posição,
Meu olhar mulato,
minhas joias de plástico.
São essas responsáveis pelos
ataques que virá a sofrer.
Permanecerás ai?
Esperando pelo golpe final,
da analfabeta aqui.
Decida você!

(Monique Ivelise)



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dia do escritor

Hoje é dia de loucos, que vagueiam pelas palavras. As vezes sem saber onde estão pisando, ou que estão pensando.

Não pense que com isso, estão em lugar superior, pois a torre de marfim já foi demolida há muito tempo, pois não estão. Estão sabe lá onde!

É válido comemorar o nosso dia (sei que é ousadia me considerar com tal).

Então senhores e senhoras aproveitem seu dia de loucura!!

Não ser louco de pedra, quem sabe ser louco da palavra.

Parabéns!!!

sábado, 23 de julho de 2011

A rotina da pretinha


Ai vem a pretinha,
com seu cabelo pixaim alisado.
Andando pelas ruas,
fingindo de ser gente.
Esperando ser reconhecida
pela vida.

Lá vai ela,
com sua sensualidade
de mulher com pele queimada.
Lá vai ela,
com a sina da mesma pele.

Esperam por ela,
pratos sujos, casas pra arrumar,
um samba mal feito.
Mesmo assim, lá vai.

A pretinha, assim reconhecida,
vai abrir as pernas
em um lugar qualquer.
Ao seu lado,
as baratas, as moscas.

O seu final:
Não se encontra nas novelas,
nem nas vitrines.
Foi esquecido pela mesma.
Tornou-se tema dessas palavras vazias,
que mostram, mas não transformam.
Tornou-se poesia nas mãos
de uma, também,
qualquer.
Também de pele queimada,
de cabelo pixaim alisado.
Que também abriu as pernas
para um mundo esquecido.
Tornou-se a puta das palavras.
Decidiu ganhar dinheiro e atenção
com as tormentas dos outros.

Então se foi ela:
sozinha,
esperando ser alguém.

(Monique Ivelise)

Enlouqueça



Aquela que se faz no íntimo,
sensual e sexual.
Que se faz de fingimentos,
até de palavras.
De toque,
de suspiros.
De poesias sujas,
de desejos.

É hora de ser louco!
Ser fingidor.
Ser gauche.
Ser amante.
Ser assassino.
Não ser.

É hora de sujar as paisagens.
Sem respeito.
Sem pudor.
Sem cor.

É hora de viajar.
Sem explicações.
Sem destinos.
Sem.

É não é!
Então:
enlouqueça!
Ou algo melhor para fazer?

(Monique Ivelise)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Teatro grego

Ladies and gentlemans:
Tenho o prazer de apresentar
uma trama que vai surpreende-los:

Eis que inicia o primeiro ato:
A pobre donzela ao vil amante:

Não se engane com os meus olhos,
pois os mesmos só se fazem de inocente.

Não deixe se seduzir por minha boca,
ela te amaldiçoa,
te engana,
te mata.

Não acaricie minhas mãos,
elas não esquecem,
elas, sim, machucam.

Faça de mim,
um fingidora,
que se tornou poetisa.

Faça de mim,
a viagem,
da delirante história.

Finalmente,
faça-me de assassina.
Que trucida tuas palavras.

Oh pobre senhor!
Encantaste com minha formosura.
Agora espere as consequência.
Bem que te avisei!
O teatro já foi iniciado.
Bom espetáculo!

(Monique Ivelise)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Escondi minhas falácias...


... atrás dos teus olhos.

Uma de minhas máscaras


Alguns me chamam de amiga, aquela que pode contar para vida toda.

Outros falam: - Que fingida, não presta nenhum centavo.

Têm outros que: - Ui! Que olhos!!

Ai vem uns: - Que boba, vê se cresce! Você é criança demais!

Tem aqueles, que quando passo: - Eta! que morenão, você é chuchuzinho da minha marmita!!! Te dou casa, comida e roupa lavada.

Também aqueles: -Vá estudar, tá muito ruinzinha! A vida não é só festa não garota.

Minha mãe: - Desliga essa música, minha filha!! Já tô com dor de cabeça!

Meu irmão: - Para de dançar!! Você não cansa não?

Meu pai: -Cala a boca!

Um cabra qualquer: - Tú é chata demais!!!

Os admiradores: - Um dia eu vou ficar com você!!

A senhora na rua: - Como você cresceu, eu te vi tão pequeninha, no colo da sua mãe.

O padre: - Deus toma conta dessa pobre alma!!!

Meus inimigos: - Tua hora tá chegando sua &¨%#!!!

Tem outros:- Você até que escreve bem, mas procura treinar, tá!

Um amigo: - Preta, pará de ser teimosa, quantas vezes que já te falei que ele não presta, se você insistir nisso é porque é burra!

Outra pessoa na rua: - Você é a cara daquela menina que fez as Patricinhas de Beverly Hills.

E eu com isso!!! E daí?

Teve outro, um dia desse: - Não consigo te desvendar, são tantas em uma só.

Aquele lá: - Desde o dia que te conheci, não consigo tirar você do meu pensamento. Só tô te pedindo uma chance, será que é demais.

Outro: - Quer passar aqui em casa pra comer uma galinha portuguesa (acho que é essa nacionalidade mesmo)

Em compensação: - Não quero mais problemas na minha vida, e VOCÊ, é um! Vê se me erra.

Um amigo: - Tenho um amigo que te acha linda.

Uma conhecida: - Tá querendo jogar na minha cara!! Sua bruxa.

Outro irmão, pelo menos eu considero: - Sua poia!!!

O que estava do meu lado: -Não chora não, deve tá chorando por causa de homem. Ele não deve te merecer!!!

Até que me fez rir!!!

Finalmente eu: É aquela garota de cabelo pixaim, que usa prancinha, mas as vezes usa cachinhos. Que nasceu com olhos mais claros do que seus iguais. Aquela preta, que as vezes finge de ser gente,

Um pouco vingativa, nada que um pouco de sal resolva.

Totalmente perigosa, com as palavras e as sua ações, e principalmente, seu olhares.

Adora dançar, imitando os clipes musicais que vê na televisão, mesmo que faça tudo errado, tá nem ai!!! Gosta de música, mas não as que todo mundo gosta, tem as especificas. Não é qualquer coisa não!!

Sonha que é princesa do egito, e faz compras na 25 de março. É agente especial do FBI, uma dançarina famosa, que tem muito dinheiro.

Torce para flamengo!! Tá nem ai pro restantes dos times!!!

Lê e tenta escrever, um pouco do que eles chamam de Literatura. Tá indo!!

É ela, a tal morena, cor de jambo, que falta pegar um pouco de sol.

Se veste como quer, tá nem ai pra moda. Veste o que acha chique!!

Só esqueci de falar que é doidinha, na verdade, adora viver na loucura. É seu habitat natural.

Acho que essa sou eu, ou uma muito parecida, quem sabe um clone.

Eta criança louca, que é feita toda de pecado, com muito de serpente e muito de mulher.

Apenas cuidado com o veneno, esse mata!

(Monique Ivelise)

Sombras


Acabei com a imagem
da santa,
que tú, senhor,
fez de mim.

Acabei com os sorrisos,
os mais brancos,
de mim.

Acabei com a gentileza.
Com o carinho,
com o amor.

Hoje:
Descolei do espelho.
Sou apenas uma sombra,
sem guia, sem destino.

O meu olhar
se encontra borrado
de negro.
A minha boca,
sangrando.

E tú? Capataz.
Zomba de meu desfalecimento.
Zomba de todas as palavras.

E tú?
Foste para o inferno?
Acompanhar a minha sombra.

Enquanto isso,
Vago por ai.
Esperando novas vítimas.
Em busca de energia.
Não irá me reconhecer,
porém cuidado.
Pois:
Depois que os gatos saem,
os perigos saem para festa.

(Monique Ivelise)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Conversa abstrata

Ao espelho:
Parabéns para você!
Não tens nada!
Não tens amor,
não tens amizades,
não tem dinheiro.

É apenas uma fingidora,
finge de amar,
finge de sonhar,
finge de ter.

É apenas uma fingidora,
de palavras,
de metrificações.

Como finge!
Na realidade,
não é nada,
pobre maldita.

Vive vivendo a vida dos outros,
pelas fotografias,
por cenas de filmes.
Não vive!
Finge!

Que preço pode haver por sua ousadia?
A morte? Não!
A vida sem sombra!
Sem nada!
Sem ninguém!
Sem ar!

Que preço poderia haver?
Oh pobre maldita,
sem conduta.
Por que não é
igual aos demais?
Agora saia pilantra.
O que vejo neste espelho,
é uma amostra de covardia.
Vá! Vire em percevejo
e pule.
Vá! Tire-me de mim,
o desprazer de olhar-te.
Vá fingidora!
Seduza a teu capataz!
Finja!

(Monique Ivelise)

sábado, 9 de julho de 2011

As sirenes

Enquanto as sirenes passam,
estou eu aqui suspirando
por palavras inválidas.
Estou aqui,
fingindo de fingidora.
Estou aqui,
fazendo de poetiza.

Enquanto lá,
o mundo vive e
brinca de não ser.
Enquanto lá,
os animais se devoram,
com calda de chocolate.
E eu, estou aqui,
sem saber para que lado ir,
só ouvindo as sirenes,
bem ao longe.
Como fosse mais uma música
das rádios.
As sirenes e eu aqui,
tomada de palavras,
que não fazem um sequer ruído.

As sirenes e eu.
Aqui

(Monique Ivelise)

domingo, 3 de julho de 2011

Linhas de uma prostituta pensante


Um lance de dados
em sua direção.
Um lance de raios,
ainda em sua direção.
Um lance seu
que inverte a minha órbita.

Dona sou, da inerte loucura.
Que o irrita,
o prende
e o doma.

Dona sou de nada,
de nada que me junta a você!
De nada que me liga
ao mundo servil!

Mulher sou de rua,
que cobra por prazer,
de imundos cavalheiros.

Mestranda sou
de teorias caídas.
Ao mesmo tempo
do programa.

Deusa sou
de ti,
imbecil pagante
por infinitos minutos
de aproximação.

O que faço?
A cada dia, a cada noite
procuro por novos imbecis
em busca de prazer.
E cobro por isso
míseras moedas.

O que não faço?
Não cobro nenhuma ternura,
nenhuma compreensão,
muito menos, nenhuma docilidade.
Apenas abro as pernas
em função de um sistema;
em função de palavras
fundantes.
E desato em uma montaria,
um corrida, uma competição
a la presente.
Sirvo, sim, o meu corpo.
Sirvo, sim, o meu gozo.
Porém, minhas palavras, estas,
são livres e soltas.
O meu pensamento,
e principalmente,
a minha loucura.

Serve?

(Monique Ivelise)

sábado, 2 de julho de 2011

E ai irmão?

Ebulição

Fez-se a explosão!
Tchibum!
A revolta da revolução,
do bem amado do infeliz.
Se quebrou
a cara branca de vidro.
Se quebraram
os pedestais de mármore.
Plaft!
Destruiu-se a moral
vigente do alto.
Destruíram-se as folhas
de cada árvore,
de cada sorriso.
Tipum! Tipum!
Nasceu o jogado de fora,
lá no centro.
Nasceu a voz,
que está aprendendo a cantar.
Alçou voo as palavras.
Fufuuuuu....
Ebuliu a vontade prendida.
Esparramou por todas margens,
queimando todos os pés.
Uhhhhhh!!!

(Monique Ivelise)